O fediverso é parecido às outras redes sociais

Infelizmente, o fediverso, tal como todas as outras redes sociais que vieram antes, sofre de macanismos parecidos que nos prendem lá. Hoje quase apaguei a minha conta.

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Se me conhecerem, ou se já leram o resto deste meu website, devem saber que gosto de tecnologia. Adoro programar e construir coisas com código é o meu escape criativo principal. Mas também devem saber que me oponho bastante a redes sociais. Não tenho Instagram, Facebook, TikTok, nem nenhuma outra das grandes plataformas, nem mesmo LinkedIn, apesar de ter medo de um dia arrepender-me. Mas tenho uma rede social: uma conta no fediverso. Aquele link no fundo da página que diz “Fediverso” leva-vos para a minha conta pessoal na rede social federada à qual costumamos chamar de fediverso.

Podem seguir o link da Wikipedia acima para saber mais, mas, resumindo, o fediverso é um conjunto de redes sociais federadas, o que significa que conseguem “falar” umas com as outras, mesmo que pertençam a empresas diferentes, ou tenham sido criadas por pessoas diferentes! O fediverso é composto por muitas pessoas e organizações que, normalmente, são contra as redes sociais tradicionais, e uma das coisas mais importantes acerca deste novo tipo de rede social é que há uma forte vontade por parte de tod@s de nunca explorar os dados das pessoas (com a vigilância constante a que estamos sujeit@s nas outras plataformas) e também uma grande aversão a algoritmos de sugestão, com o do Youtube, cujo o único propósito é agarrar a pessoa o máximo tempo possível ao ecrã. É fácil entender porquê: se não houver publicidade nem algo a ser vendido, então o incentivo para manipular as pessoas a ficar horas coladas ao ecrã desaparece quase por completo.

Todas estas coisas levaram-me a olhar para o fediverso, e a conta que lá tenho, de forma diferente de como vejo o resto das redes. Achava que era mais “culta” ou mais “útil”. Mas hoje de manhã, uma amiga minha disse-me “É bastante irónico como é que tu reclamas tanto com redes sociais, mas mesmo assim passas tanto tempo nessas tuas redes socias estranhas, tipo o Mastodon”. Ela também se referia ao Matrix, onde tenho uma conta. O meu primeiro instinto foi dizer o que pensava genuinamente: “O Matrix é para “trabalho”! Mas tens razão que também passo muito tempo no Mastodon…” (Já agora, a minha conta no fediverso não é no Mastodon, mas sim num servidor pessoal de GoToSocial, mas as pessoas conhecem melhor o nome Mastodon.)

Então comecei a pensar para mim o quanto isso era verdade. Antes, o meu subconsciente dizia que por eu usar um rede social “ética”, estava a salvo de passar demasiado tempo lá, ver conteúdo inútil para mim, etc. E, sendo verdade que passo lá menos tempo que muitas pessoas passam no Instagram, quando fui à minha lista de contas que seguia, vi várias contas que seguia só para que o meu feed tivesse sempre conteúdo novo. Porque não interessa se o conteúdo é culto ou não, só com conteúdo constantemente novo é que tinha algo que me agarra a atenção e me dava os disparos de dopamina.

Tudo isto fica ainda pior porque nenhum dos meus amig@s ou família está no fediverso (infelizmente), por isso apenas seguia página de notícias, cientistas, etc. E estar viciado a abrir o Instagram de cinco em cinco minutos é tão mau como estar viciado em abrir as notícias de cinco em cinco minutos, principalmente quando as notícias são constantemente más, nos dias de hoje.

Então decidi fazer uma limpeza. Agora sigo 0 contas.

Isto vem também depois de tornar o meu telemóvel muito mais “burro”. Já nem tem um browser. Agora é basicamente o que os telemóveis sempre deveriam ter sido: uma máquina para falar com outras pessoas (chamadas e mensagens) e, claro, fazer algumas coisas super úteis como servir de mapa ou iPod (uso o Tidal e o Bandcamp). É impossível eu usar o telemóvel para ler notícias, ir a redes sociais, ou o que quer que seja. Se quiser fazer essas coisas, tenho de ir ao computador.

Vamos ver como corre.

Uma coisa eu sei: achava que no fediverso estava a salvo das armadilhas das redes sociais, mas esqueci-me que elas só jogam com os mecanismos que tod@s temos na mente e na vida. A única coisa que me liberta de estar preso ao ecrã é querer viver a vida fora dele. Livros, Natureza, relações com pessoas, desporto, todas essas coisas. Vou dar o meu melhor para que tudo isso seja o centro da minha vida.